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terça-feira, 10 de maio de 2011

De volta das trevas (ou para as trevas)

Depois uma temporada por fora. Depois de andar alguns passos, sem ser convidada, no jardim do éden. Eis-me aqui, de volta às origens… Pra quem não sabe, estive colando ossos e cacos de coração, dormindo cedo, acordando ainda mais e não escrevendo nada. De volta depois da minha quarta morte, outro suicídio e, enfim, a páscoa: ressurreição. Nos lábios de outro alguém, no suor, no hálito, no sangue impregnado nas minhas papilas gustativas para a eternidade. Talvez eu não seja mais a mesma: o tempo passa e as mudanças são inevitáveis: pra melhor ou pra pior, tanto faz. No entanto sou eu, depois de uma noite escutando verdades absolutas, depois de uma noite de soluços e lágrimas que escorreram sobre meu tépido peito . Meus cacos ainda mal colados tentam recuperar o fôlego. Amanheço, triste demais e ao mesmo tempo feliz por estar de novo no inferno com todos vocês, meus amigos. Dizer, sorridente: estou de volta! E pra comemorar, deixo um poema do Bukowski, triste & significativo.

outra cama

outra cama
outra mulher
mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha
outros olhos
outro cabelo
outros
pés e dedos.
todos à procura.
a busca eterna.
você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu
à última
e à outra antes dela…
é tudo tão confortável -
esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…
após ela sair você se levanta e usa
o banheiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e
dorme mais uma hora.
quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente
quer funcione, quer não.
você dirige até a praia e fica sentado
em seu carro. é meio-dia.
- outra cama, outras orelhas, outros
brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos
               cores, portas, números de telefone.
você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais
sensato.
você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para Janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.

Ps: só mudo o sexo da pessoa citada no poema, como se eu estivesse na pele de Bukowsky.

Charles Bukowski [do livro O Amor É um Cão dos Diabos, L&Pm Editores, 2007; Tradução de Pedro Gonzaga]


Publicado em abril 24, 2011 de 6:17 pm e arquivado sobre Charles Bukowski: poemas e textos., Nonfiction, Outros Autores, Poemas com as tags , , , , , , , , , . Você pode acompanhar qualquer resposta por meio do RSS 2.0 feed.

com alterações.

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